Select Page

Cona de Mel

 

 

Escapei-me da Realidade

E gatinho pelos bosques em busca da verdade.

Andei á volta, circundando,

de um primevo pito que ia adivinhando,

mas que  iludia em cada instante

O meu membro duro como torrão de alicante

Para consolo nada mais que a toca de uma toupeira

As mais variadas florações eclodiam ao som dos tambores

Enquanto elefantes anões seguiam os teus passos

Músicos vestidos de negro dentro de bunkers de betão

A canção que fazia tremer o chão

Súbitas abelhas enxameavam o caminho

Zurzindo um clamor hipnótico

Levitava um grande templo gótico

Perguntei ao coronel

Onde se encontra cona de mel?

Na clareira banhada de luz

No templo suspenso num tempo suspenso

Repousava a bela e melíflua infeliz

Que tinha perdido os amigos

Que atolados no movediço mel

Explodiam em notas de acre fel

Produtora generosa do doce néctar

Para cem mil fábricas por todo o Mundo

Era prisioneira de si própria

E do liquido dourado do qual era fonte

Inesgotável e prolixa

Deixava escapar a cruel ladainha:

Eis me só, abandonada

Tremendo como uma fada

Respondi em pensar

“Cona de Mel no país das milvirilhas

Não te envergonhes das tuas cuecas frutadas

Nas quais se impregna o real brasão

O teu recheio é o meu viver

Rebento pelo nariz, pelos olhos, pelas orelhas”

Ao revelar a minha viril intenção

Desapareceu a bela

Andando mais cinco estádios, lá está ela

Do ginásio perpendicular

Até ao fio de prumo

Sem gravidade, flutuante

Amamenta ursinhos sob o seu seio

Debaixo do assento estão dispostos potezinhos

Na floresta de pedra chocam os pesados zangões

(Já tantas rimas que pediam colhões)

Cegos, enfurecidos de tantos falhados tesões

Ribombando contra o apartamento de vidro

Que as nuvens vêm abraçar

E onde apenas as borboletas podem entrar

 

O indomável urso parvo tenta a porta forçar

Abanando toda a estrutura desde o quinto andar.