Do alto das pirâmides três décadas nos contemplam.
Não fomos os napoleões de esferovite que esperavam as bruxas do rei Lear. Os nossos sapatinhos de cristal estão remendados e os adamastóricos testículos começam a segregar um estranho odor. Não somos Crassos, não construímos um império.
Sol na Eira, chuva no nabal.
Que importa a caganeira,
Trivial?
A flor do moscardo, como um balão azul
Transporta os homúnculos cansados
Com as suas picaretas de suor
As nossas picaretas, rombas
De tanto fazer caretas,
Nas vossas trombas,
Soam agora como trombetas,
Bombas.
Não dominamos os nebulosos cumes da arte na nossa aldeia local. Chegámos a um espécie de entrada nos infernos ao contrário, onde Cérbero fuma os seu três cachimbos. Os três cachimbos fumam as três cabeças.
No pedestal onde a nova estátua gorda substitui a gorda estátua anterior, estão ainda os cotos dos homenageados precedentes, por entre o sangue dos homenageados póstumos, perante a estúpida indiferença geral a qualquer tipo de entendimento de seja o que for de diferente do que é compreensível.
É tão lindo o nosso país
As nossas ilusões magníficas construíram castelos de cartas no etéreo firmamento
Hoje verificamos cautelosamente os vestígios da sua queda no cimento, mas algumas cartas borboleteam ao vento.
Temos que voltar a vociferar
Somos os Sandokans da Amnésia
Somos os Tigres da Malcata
Somos os videntes da tinta da China
Somos os marujos de João IIº
O Cristão-Leão do circo Cardinalli
Os adamastores atrás dos estores
A flor da montanha no meio da nhanha
O chato que abandona os pelos púbicos e vai de joelhos a Fátima
A mãe que deu á luz um lobisomem
O talibã borracho
O enforcado amador do Montijo
O construtor civil neoclássico
O japonês fadista
A cacatua silenciosa
A fonte de gelatina
O cão que mia
O gato que ladra
Caçaremos nos novos territórios a ambrósia divina
Flautistas de Hamelin espantando os pássaros
Somos o novo fato do imperador
Em exposições de roupa interior
O pó de talco nas assaduras dos bébés
A negra vassoura do limpa chaminés
O pinga amor enlouquecido que insulta as pessoas nos cafés
O guarda nocturno no comboio fantasma
E várias outras coisas das quais não me lembro agora
Como o roubo de estátuas nos museus de História
A rainha que dá pães aos espanhóis
E a padeira que os assa
A táctica do quadrado
Arte Póvera: plantações de Dalai lamas
(Como estás, velho Dalai?)
Os amantes feridos nas camas dos maridos
Os ataques de caspa dos monges solitários
O próprio método de Gaspar Monge
A descritiva analítica dos pardais
Os negros corvos nos amarelos milharais
Porra não consigo fazer um manifesto em forma de manifesto
Atentai, meus irmãos, qual é a nossa revolução
Um novo patamar da história da Humanidade, recheado de faisão fumado
Um novo tomar de consciência da pictórica sapiência
Um novo lupanar, paraíso da incontinência
Um novo marchar sobre as trevas brutas da inconsciência
Um novo cantar dos sinos bravios da peluda omnisciência
Um velho despertar dos himnos da mamuda eminência.
Na Fundação para a Eutanásia da Arte
Somos os enfermeiros da morte assistida
Não, somos os médicos
Convalescência da moribunda
Opiada em sonhos
A nova Arte, a Etra!
Nasce da podridão da Mãe
Somos os vermes
Underground au plein air!